Hidrogênio pode superar petróleo como principal recurso energético até a década de 2030, apontam estudos

Especialistas discutem a transição energética e o papel do Brasil neste novo cenário durante audiência pública na Câmara dos Deputados

Estudiosos e agências internacionais de energia preveem que o hidrogênio pode ultrapassar o petróleo como a principal commodity energética mundial a partir dos anos 2030. A consolidação dessas pesquisas foi apresentada pelo professor Nivalde de Castro, do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), durante a primeira audiência pública da comissão especial de transição energética da Câmara dos Deputados, nesta terça-feira (27).

Nivalde, que também lidera o Grupo de Estudos do Setor Elétrico da UFRJ, enfatizou que, pela primeira vez, o capitalismo está sendo forçado a se ajustar a demandas não econômicas, mas ambientais, vinculadas à sobrevivência humana face às alterações climáticas. Ele apontou o hidrogênio como elemento chave nessa transição.

“Para alcançarmos as metas de descarbonização, precisaremos do hidrogênio de baixo carbono. Contudo, até que alcancemos o hidrogênio verde, temos outras opções: gás, etanol, biometano. O Brasil possui reservas em todas elas, o que irá posicioná-lo de forma estratégica neste novo mercado”, declarou.

O hidrogênio, já amplamente utilizado em escala global, pode ser obtido de várias fontes, poluentes ou limpas. Temos, portanto, o hidrogênio cinza ou marrom, proveniente da combustão de combustíveis fósseis, como o petróleo; o hidrogênio azul, obtido através de técnicas de captura de carbono; e o hidrogênio verde ou sustentável, gerado por fontes renováveis de energia, como solar e eólica.

Nivalde de Castro indicou a amônia verde como um dos derivados do hidrogênio mais promissores. “Por volta de 2040, falaremos sobre barris de amônia e não mais sobre barris de petróleo, mesmo que ainda possamos explorar nossas reservas de petróleo”, afirmou.

Outros especialistas que participaram da audiência concordaram que, embora o mercado brasileiro de hidrogênio ainda seja pequeno e os custos elevados, isso tende a mudar com incentivos financeiros e investimentos em pesquisa e desenvolvimento. Eles também advogaram por incentivos fiscais para substituir fontes poluentes de energia por fontes renováveis.

Ennio Peres da Silva, coordenador do Laboratório de Hidrogênio da Unicamp, destacou que o Brasil precisa definir prioridades diante de diversas opções. Ele mencionou outros projetos em andamento no setor de transportes, como biocombustíveis e veículos elétricos.

Ele também apontou os desafios do setor petroquímico. “A questão do nosso setor petroquímico não é produzir outro hidrogênio. É capturar o CO2 desse hidrogênio produzido nas refinarias. Se quisermos descarbonizar o setor, precisamos capturar esse carbono”, explicou.

O deputado Arnaldo Jardim (Cidadania-SP), presidente da Comissão Especial sobre Transição Energética, afirmou que o objetivo dos legisladores é identificar pontos cruciais para impulsionar a indústria do hidrogênio. “Ter uma fonte renovável de baixo custo nos dará vantagem competitiva e comparativa para que o Brasil se torne um polo de produção de hidrogênio renovável.”

O relator da comissão, deputado Bacelar (PV-BA), planeja concluir os trabalhos até novembro com uma proposta para um marco regulatório que garanta segurança jurídica para o emergente mercado de hidrogênio no Brasil.

Edição do Anexo 6: Sérgio Botêlho, com informações da Agência Câmara

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