Crescimento significativo no endividamento dos clientes de cartões de crédito no Brasil

A expansão do mercado de cartões de crédito levanta preocupações sobre o aumento do endividamento das famílias e a necessidade de atenção aos diferentes perfis de uso

No mês de junho de 2022, o Brasil registrou um aumento expressivo no número de clientes de cartões de crédito com saldo devedor em relação a essa forma de pagamento. Segundo dados divulgados pelo Banco Central, o total chegou a 84,7 milhões, representando um aumento de 30,9% em comparação com junho de 2019, quando eram 64,7 milhões.

O crescimento pode ser atribuído à entrada de novos players no mercado nos últimos anos, especialmente no segmento de cartões pós-pago, que permitiu que uma parcela significativa da população brasileira obtivesse acesso a um ou mais cartões de crédito. Durante o período analisado, instituições de pagamento e bancos digitais aumentaram sua base de usuários em 27,6 milhões.

De acordo com o relatório do Banco Central, em junho de 2022, o número de cartões de crédito em circulação atingiu 190,8 milhões, quase o dobro da população economicamente ativa do Brasil (107,4 milhões), de acordo com dados de 2021 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e estatísticas do Sistema de Pagamentos Brasileiro (SPB).

Embora a expansão do mercado de cartões de crédito seja vista como positiva em termos de inclusão financeira, Angelo José Mont Alverne Duarte, chefe do Departamento de Competição e de Estrutura do Mercado Financeiro (Decem) do Banco Central, alerta para o potencial de aumento do endividamento das famílias. Ele destaca que quando os clientes deixam de pagar o valor total da fatura do cartão, o valor não pago se torna uma modalidade de empréstimo conhecida como “rotativo do cartão de crédito”, com altas taxas de inadimplência e custos.

O estudo também revela que os clientes com vínculos em mais de uma instituição aumentam sua capacidade de gastos, elevando, em média, o saldo devedor consolidado. Além disso, o uso de modalidades mais onerosas do cartão de crédito, sujeitas à cobrança de juros, tende a aumentar à medida que mais vínculos são adicionados.

Outro destaque do estudo é o percentual do uso do crédito rotativo e não migrado, que varia de 17% a 20%, independentemente do número de vínculos dos usuários, além da baixa migração do crédito rotativo, inferior a 5%.

Os resultados mostram que, à medida que o número de vínculos aumenta, menor é o percentual de usuários que comprometem todo o limite de crédito, abrindo margem para mais gastos. Isso indica uma maior propensão ao consumo quando mais cartões são utilizados.

Enquanto as instituições financeiras digitais apresentaram o maior crescimento no saldo devedor de seus clientes (292,3%), a maior fatia do saldo devedor ainda está concentrada nos grandes bancos públicos privados, totalizando R$ 57,7 milhões.

O estudo também destaca que os bancos ligados a empresas do ramo varejista, que emitem cartões vinculados às suas redes de lojas, têm o maior percentual de endividamento com características de operação de crédito no cartão, variando de 39% a 57%, dependendo do número de vínculos. Esses dados estão alinhados com o perfil dessas instituições, que comumente oferecem empréstimos pessoais com parcelas cobradas na fatura do cartão.

Por outro lado, os bancos cooperativos e cooperativas singulares apresentam um percentual significativamente menor de utilização do cartão nas modalidades sujeitas à cobrança de juros em comparação aos demais grupos.

Esses números revelam a importância de uma análise cuidadosa do endividamento dos clientes de cartões de crédito no Brasil. Embora a expansão do mercado tenha proporcionado inclusão financeira, é essencial monitorar o impacto no nível de endividamento das famílias. Medidas de educação financeira e regulamentações adequadas podem ser necessárias para garantir que o acesso ao crédito não se transforme em uma armadilha financeira para os consumidores.

Em suma, o crescimento significativo no endividamento dos clientes de cartões de crédito no Brasil demanda atenção quanto aos diferentes perfis de uso, a fim de evitar problemas financeiros e promover uma relação saudável com o crédito.

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